A prevalência de diabetes já ultrapassou os 5% no Brasil e é a
principal causa de várias condições como a amputação de membros
inferiores, doenças renais graves e cegueira e dobra o risco de
cardiopatia isquêmica, derrames cerebrais e incapacidades. As
evidências demonstram que a maioria das complicações são
preveníveis.
Esta situação tem motivado a criação de programas por empresas,
operadoras de saúde, consultorias e no âmbito do Sistema Único de
Saúde (SUS). Naturalmente que o sistema de saúde não pode oferecer
respostas para todos os desafios como, por exemplo, a epidemia de
obesidade que está relacionada a fatores macroeconômicos
relacionados a preços, propaganda e globalização.
No entanto, muitas ações têm tido sucesso, particularmente no que
se refere a cuidado com o doente, gerenciamento das complicações e
melhores opções terapêuticas. A grande maioria dos estudos
relacionados ao diabete estão restritos à área clínica e não
envolvem grupos populacionais e analisam o mundo real. Com esta
preocupação, o Center of Disease Control (CDC) dos Estados Unidos
possui um projeto em andamento denominado NEXT-D (Natural
Experiments in Translation for Diabetes) que visa avaliar a
efetividade dos programas de âmbito populacional na prevenção,
controle e tratamento do diabete. Neste contexto, há pelo menos
dois projetos importantes envolvendo operadoras de saúde.
Um projeto da empresa Kaiser Permanente Northern Califórnia (3,3
milhões de associados) envolve o coaching em saúde para estimular
estilos de vida saudável oferecido por via telefônica e utilização
de técnicas que envolvem informação, aumento da auto-eficácia e
suporte para comportamentos positivos em saúde através da
entrevista motivacional. O programa envolve cinco áreas
(alimentação, atividade física, controle do peso, tabagismo e
gerenciamento do stress) . É realizada uma entrevista inicial de
trinta minutos e três contatos posteriores de 5 a 15 minutos. O
estudo envolverá três fases com pesquisas transversais e
controladas em sequência a medida que forem sendo comprovadas as
evidências de efetividade.
Outro estudo, desenvolvido pela operadora de saúde UnitedHealthcare
(UHC) que oferece um plano de saúde para o diabete que inclui
incentivos financeiros (150 a 500 dólares por participante),
redução de co-participação em consultas com especialistas e
medicação, acesso a serviços de suporte, coaching telefônico,
suporte on line e acesso a recursos educativos. O estudo é
realizado em parceria com pesquisadores da Universidade da
Califórnia (UCLA) . O estudo vai testar várias hipóteses como, por
exemplo, de que os pacientes com pré diabetes que tiveram acesso ao
programa aderiram mais ao uso de metformina para prevenção da
doença, menor progressão para diabetes em um período de três anos e
geraram menos custos ao sistema em comparação aos que não tiveram
acesso ao programa. Outra hipótese é de que os diabéticos que
aderiram ao programa tiveram melhor controle glicêmico e lipídico,
melhor aderência ao tratamento, usaram menos os serviços de
emergência, foram menos internados no hospital e geraram menos
custos ao sistema. Os pesquisadores usarão metodologia
quase-experimental para testar as hipóteses e o uso de dados
longitudinais permitirão ajustar qualquer diferenças na linha de
base entre os grupos comparados.
Estes estudos trarão subsídios importantes, através de pesquisas
realizadas com metodologia robusta no mundo real para aplicação nas
empresas e em políticas públicas. Até o momento, infelizmente, a
maioria das abordagens é empírica, sem evidências científicas
comprovadas e resultado duvidoso.