A iniciativa do Governo da presidente Dilma Rousseff de
contratar médicos estrangeiros para suprir a falta de profissionais
em regiões afastadas, como a Amazônia, divide os brasileiros e
entrou na agenda da onda de protestos que sacodem o país.
Em reunião na segunda-feira passada para avaliar a dimensão das
manifestações com prefeitos e governadores, Dilma apresentou o
programa como uma resposta à demanda dos manifestantes de um melhor
sistema de saúde.
A presidente propôs contratar médicos cubanos, espanhóis e
portugueses, apesar da rejeição dos conselhos profissionais do
país.
No Rio de Janeiro, por exemplo, centenas de médicos marcharam
neste sábado até a sede do Conselho Regional de Medicina levando
cartazes nos quais pediam melhores condições salariais e de
trabalho para se deslocar para as regiões mais distantes do
Brasil.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, comentou ao portal "IG" que
"não pode ser um tabu no Brasil ter uma política de atração de
médicos estrangeiros" e apontou que a convocação que o Governo
prepara dará prioridade aos profissionais brasileiros que queiram
ocupar as vagas em aberto.
O Brasil, de maneira gradual, pretende contratar 35 mil médicos
até 2017 para atender as necessidades de saúde em todo o país.
O Conselho Federal de Medicina disse que apesar de o país ter 1,8
médicos para cada 1.000 habitantes, 22 dos 27 estados estão abaixo
dessa média, diferente de países com um sistema único de saúde
pública, como a Inglaterra, que tem 2,7 médicos por cada mil
habitantes.
Na rua muitos brasileiros se mostram a favor de preencher os vazios
com profissionais, independentemente de serem nacionais ou
estrangeiros.
"Se aqui nos centros urbanos como São Paulo temos grandes filas
de espera e falta de médicos, a situação deve ser mais complicada
em outros lugares, além disso, os médicos estrangeiros viriam de
países igual ou melhor preparados que o Brasil", declarou à Agência
Efe a empregada doméstica Rosineide Motta.
O médico colombiano Francisco Solano se mostrou a favor da
importação de médicos estrangeiros "sempre e quando for realizado o
exame de revalidação e o de proficiência de língua, do qual acho
que não se pode prescindir".
"Se já existem dificuldades de comunicação entre brasileiros que
falam a mesma língua, é difícil pensar que se possa evitar esse
passo, pois no atendimento básico a anamnese (interrogatório
clínico) é uma das partes mais importantes da abordagem médica",
apesar de o português ser parecido com o espanhol, acrescentou.
Solano lembrou que qualquer país "sério" revalida títulos médicos
com exames rigorosos, da mesma maneira que avalia seus
profissionais ativos periodicamente.
O advogado internacionalista peruano Grover Calderón, presidente
da Associação Nacional de Estrangeiros e Imigrantes do Brasil
(ANEIB), pediu a aplicação de exames "mais justos" para revalidar o
título.
"As provas devem medir uma preparação suficiente para o
exercício profissional e ser contraditório que médicos formados em
universidades brasileiras não consigam passar nestas provas ou
outras menores e mesmo assim ser permitido a eles o exercício da
profissão", disse a ANEIB em uma declaração.
Calderón explicou à Efe que os médicos estrangeiros atenderão às
pessoas mais pobres e não concorrerão com seus colegas brasileiros
no mercado lucrativo da profissão.
Este professor de direito de várias universidades em São Paulo deu
como exemplo a prova aplicada aos advogados para exercer sua
profissão, exigida para nacionais e estrangeiros, diferente do caso
dos médicos, na qual os exames são só requeridos dos
estrangeiros.