Criticado desde que apresentou a ideia de estender por mais dois
anos a formação dos médicos brasileiros, o governo federal começa a
mostrar indecisão sobre a proposta. Depois de o ministro da
Educação, Aloizio Mercadante, afirmar que o tempo adicional deve
ser transformado em residência médica em qualquer área, seu colega
da Saúde, Alexandre Padilha, aprovou a ideia, mas defendeu que a
formação ocorra nas áreas de urgência, emergência e atenção
básica.
Nessa quarta-feira, 24, ao sair da primeira reunião com a Câmara
de Ensino Superior do CNE (Conselho Nacional de Educação), em que
falaram sobre a mudança necessária nos currículos de Medicina,
Mercadante e Padilha admitiram que os dois anos extras podem, de
alguma forma, sumir da proposta.
"Achamos que essa proposta (de residência) precisa de
detalhamento, mas é um bom debate", disse Padilha, para acrescentar
depois que esses dois anos seriam "mais amplos, concentrando-se em
atenção básica, e urgência e emergência".
O projeto inicial apresentado pelo governo federal há três
semanas previa que os dois anos adicionais completassem a formação
do médico, que seria estendida de seis para oito anos. Nos anos
finais, os recém-formados receberiam uma bolsa para trabalhar no
SUS (Sistema Único de Saúde) nas áreas de saúde básica e
atendimento de urgência.
As reclamações dos médicos vieram de todos os lados. Entidades
que representam a categoria e acadêmicos alegaram que o governo não
apenas ia atrasar ainda mais a formação como arrumaria mão de obra
barata para trabalhar no SUS.
A transformação desses dois anos em parte da residência médica
está prevista na medida provisória que criou o programa Mais
Médicos. No entanto, a comissão montada pelo MEC propõe,
inicialmente, que os dois anos sejam transformados em residência
regular, em todas as áreas, tornando-a obrigatória e abrindo vagas
para todos os formandos - hoje apenas metade consegue uma
residência.
Mercadante defende que essa proposta não apenas une as áreas de
educação médica, como ajuda a formar especialistas que o País
precisa. No entanto, a ideia retira o que Padilha apontou como um
dos pontos centrais do projeto: dar uma formação mais humanista e
integral aos médicos brasileiros.
"É, ele (Padilha) falou que na graduação haveria concentração na
atenção básica, e urgência e emergência. Mas, desde o início, a
medida provisória do Mais Médicos aventava a possibilidade da
residência. Se for residência médica, será urgência e emergência e
atenção básica, mas já será focada na área específica da formação
em que o profissional se desenvolverá", disse Mercadante ao sair da
reunião do CNE.
Humanista
Padilha admitiu que os dois anos extras de formação podem
desaparecer da proposta, mas insistiu que o novo currículo terá de
dar mais tempo para os alunos terem contato direto com os doentes,
acompanhá-los por períodos maiores do que é feito hoje.
"A ideia é ampliar o período que o médico em formação fica no
ambiente fora do hospital, dentro do SUS e acompanhando o mesmo
paciente por um período prolongado", afirmou. Como isso será feito,
disse, caberá ao CNE definir. (Colaborou Ricardo Della Coletta). As
informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".