Começaram nesta semana os testes em
macacos da vacina contra o HIV, que está sendo desenvolvida pela
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em parceria com
o Instituto Butantan. Os quatro animais começaram a ser imunizados
com a vacina que contém partes do vírus. Depois, os macacos
receberão um vírus modificado que causa o resfriado como parte dos
estudos para desenvolver o imunizante.
Segundo Edecio Cunha Neto, um dos pesquisadores responsáveis por
conduzir o projeto, o diferencial da vacina é usar partes do vírus
que não se alteram. "Um dos grandes problemas de se fazer uma
vacina contra o HIV é que ele é hipervariável", ressalta ao
explicar que o genoma do vírus pode varia até 20% entre dois
pacientes. "Nos componentes que nós escolhemos para colocar na
vacina estão somente as regiões mais conservadas do vírus, ou seja,
aquelas que não variavam de um HIV para o outro", destacou.
Além de ter pouca variação, as partes do vírus foram selecionadas
por provocarem forte reação no organismo da maioria das pessoas.
"Nós fizemos o que chamamos de desenho racional, para embutir
dentro da nossa vacina mecanismos para que ela fosse capaz de dar
uma resposta que funcionasse para os HIVs mais variados possíveis e
que funcionasse em um número grande de pessoas".
Após os testes com os quatro animais, serão feitos experimentos com
um grupo de 28 macacos e três tipos de vírus diferentes, todos
modificados com partes do HIV. "As combinações desses três vírus
são, até hoje, as melhores combinações para gerar respostas imunes
potentes em primatas. Então, o que a gente vai fazer é escolher, de
quatro combinações diferentes, aquela que deu resposta mais forte.
E usar essa combinação para teste em humanos", detalhou o
pesquisador.
Caso seja bem sucedida, a vacina vai aumentar a reação dos
imunizados ao vírus, diminuindo a capacidade de transmissão e
melhorando a qualidade de vida do paciente. "O que ela vai fazer é
reduzir muito a quantidade de vírus, matar as células que estão
infectadas. Mas ela dificilmente vai erradicar a infecção. Vai
bloquear a transmissão para outra pessoa, porque a quantidade de
vírus vai ser muito baixa".
Atento aos recentes protestos contra o uso de animais em pesquisas,
que levaram inclusive ao fechamento de um instituto no interior
paulista, Cunha fez questão de dizer que os animais são bem
tratados. "Os animais neste estudo não sofrem de maneira nenhuma.
Até mesmo para o procedimento de colher sangue ou vacinar, eles
estão anestesiados", enfatizou.
O pesquisador defendeu ainda o uso de animais em experimentos. "Não
é possível substituir um teste com animais por um teste de cultura
ou teste de laboratório mais simples. O teste em animais vai
observar a repercussão de uma nova vacina, uma nova droga, no
organismo inteiro", argumentou.