As diferenças entre as regras para
venda de drogas genéricas e similares podem deixar de existir, a
depender de decisão a ser tomada pela Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária).
Esses dois tipos de cópia do remédio original serão tecnicamente
iguais até 2014. É quando passará a valer a obrigatoriedade para
que os similares comprovem funcionar no corpo da mesma maneira que
os originais --a chamada bioequivalência, que os genéricos já têm
que provar.
Como consequência, a Anvisa estuda unificar, também, as regras para
a venda de genéricos e similares e mudar a identificação das
categorias.
A regra atual determina que, se o médico prescreve o remédio de
referência, a farmácia só pode oferecer o genérico como substituto
--o similar fica de fora.
Apesar de não ser seguida sempre, essa regra pode ganhar
importância caso a Anvisa cumpra sua intenção de apertar, nas
farmácias, a cobrança das prescrições médicas --exigidas por lei,
mas desconsideradas na prática.
"Estamos numa avaliação jurídica e de mercado para entender o que
pode acontecer caso se decida autorizar essa intercambialidade",
diz Dirceu Barbano, diretor-presidente da agência. Essa opção pode
ter outro impacto: mudar a identificação dos similares. Um nome
bem-visto pela agência é "bioequivalentes", como é no Chile, por
exemplo.
Um debate público e on-line foi encerrado pela Anvisa na semana
passada. O tema deve ser posto em consulta pública ainda neste
ano.
Concorrência
Parte da indústria faz críticas à
proposta de mudança, vista como a entrada da agência em um assunto
puramente comercial. E não há consenso, entre as entidades, sobre o
potencial impacto nos preços ao consumidor. A Anvisa também ainda
não tem esse cenário desenhado.
A conta envolve um potencial aumento de concorrência (já que
genéricos e similares seriam equiparáveis), e as consequências de
outras mudanças que ainda podem ser feitas, como na forma de
identificação dos produtos.
Hoje, enquanto genéricos são identificados pelo princípio ativo,
similares podem ter marca, e algumas são bem conhecidas. Se os
similares deixarem de ter marca, isso pode prejudicar as vendas de
parte deles.
Além disso, preços de genéricos e similares são decididos hoje por
fórmulas distintas. Se elas forem unificadas, isso pode ter impacto
no preço ao consumidor.Essas duas mudanças devem ser discutidas em
um segundo momento.
Para a indústria, os genéricos --que têm hoje exclusividade na
substituição pelos de referência-- e os similares de marcas
conhecidas --que investem em ações de publicidade com os médicos e
poderiam ser diluídos entre os "bioequivalentes"-- seriam os
maiores prejudicados.
Segundo Barbano, a mudança só será feita se garantir preços
menores.
O Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no
Estado de SP) avalia que a medida não terá impacto relevante nos
preços e, assim, não há necessidade de se mudar a regra atual.
"O consumidor brasileiro conhece o genérico. Seria desnecessário
fazer esse investimento, quando temos problemas mais graves", diz
Nelson Mussolini, presidente-executivo da entidade.Ressalvas também
são feitas pela Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de
Pesquisa). "A matéria não envolve questões sanitárias que
justifiquem a ação da agência. Não estão claras as possibilidades
de a agência intervir em uma disputa comercial", diz Antônio
Britto, presidente-executivo.
A Alanac (Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais)
acredita que a permissão para que os similares e genéricos sejam
intercambiáveis levará à queda dos preços. A Pró Genéricos diz não
ver grandes impactos no preço, pois na prática a intercambialidade
já acontece. Mas alerta para potenciais prejuízos à política de
genéricos, que reduziram os preços dos remédios no país.