É inegável que, ao falar das
implicações de uma alta rotatividade de colaboradores dentro da
empresa, os gestores lembram dos altos custos que isso envolve. Mas
para quem está entre as 35 melhores empresas para trabalhar em
saúde, ranking realizado pela Great Place to Work em parceria com a
IT Mídia, o grande ponto da questão é humano: antes das contas, o
bem-estar do profissional.
Nesse sentido, o foco na educação
é evidente. No caso do Hospital Moinhos de Vento (RS) – ocupante do
24° lugar da lista -, a dedicação ao tema é levada ao nível máximo.
“Desde a fundação deste hospital foi criada uma escola para formar
os colaboradores que vão trabalhar aqui. Temos quatro turmas no
curso técnico de enfermagem, por exemplo, que é o cargo com o maior
corpo pessoal. Temos os cursos técnicos, os de pós-graduação e em
2014 criaremos a faculdade que irá formar enfermeiros. O
profissional não vê o hospital só como emprego, mas como formação”,
conta o superintendente executivo, Fernando Torelly.
Formado em Economia e com mestrado
em Administração de Empresas, o gaúcho ocupa o cargo há um ano e
meio, sendo que chegou no hospital há seis. “O mais interessante é
que todos seguem estudando. Temos um curso de MBA em parceria com a
Fundação Getúlio Vargas. Temos, por exemplo, um superintendente que
está estudando Filosofia. Recentemente fomos contratar uma gerente
de enfermagem e o diferencial foi ela ter um mestrado. Sempre
buscamos sólidas formações acadêmicas”, completa o executivo do
hospital que conta com 3 mil colaboradores em regime CLT, além do
mesmo número de médicos em corpo clínico aberto.
Saindo do Rio Grande do Sul e
chegando a Fortaleza, a abordagem é na mesma linha. O baixo índice
de rotatividade na Unimed Ceará passa, logo no primeiro assunto
citado, pelos projetos de formação dos funcionários. A entidade
figura na 14° posição do estudo referente à 2013.
“Criamos um programa para que
nossos funcionários voltassem aos bancos escolares. Nele,
investimos 70% do valor dos cursos, sendo que em casos de pessoas
de baixa renda isso chega a 100%. Somos uma cooperativa de segundo
grau, a federação das Unimeds do Ceará, e temos 103 funcionários
sendo que todos têm competência para tomada de decisão. Então
também procuramos transmitir para eles que todos têm condições de
fazer um bom planejamento de vida”, explica o presidente Darival
Bringel de Olinda.
Na instituição, apenas 5% dos
colaboradores não concluíram nem começaram algum curso de Ensino
Superior. E para o gestor, médico pneumologista que ocupa o cargo
há 12 anos e se diz o mais antigo diretor do sistema nacional
Unimed – cerca de 35 anos -, vale também destacar as boas condições
de remuneração adotadas na companhia.
“Pagamos, falando pelo nível de
Fortaleza, um salário bem compatível com o mercado, e além disso
somos talvez a única cooperativa da Unimed no Brasil que paga 14° e
às vezes até o 15° salário. Em 2013, por exemplo, tivemos um
excelente resultado financeiro e isso fez com que a gente acabasse
de pagar, agora em março, o 14° para todos os
colaboradores”.
Para citar um outro exemplo de
ação que busca motivar os colaboradores a seguirem num ambiente
saudável e que respeite as particularidades e ambições de cada
profissional, a 22° colocada Clamed, Companhia Latino-Americana de
Medicamentos, com sede em Joinville (SC) e escritórios espalhados
por Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul e no próprio
estado de Santa Catarina, fala da relação com as mães que atuam na
empresa.
“Perto de 75% das pessoas que
trabalham conosco são do sexo feminino. E entendendo a importância
do fortalecimento do vínculo mãe-filho, oferecemos às mamães a
oportunidade de permanecer dois meses a mais com o bebê, através da
licença maternidade cidadã. Isso possibilita que as mulheres
cheguem a seis meses de licença, além dos quatro meses obrigatórios
por lei, o que na maioria das vezes ainda se prolonga com mais um
mês de férias”, afirma o presidente da Clamed, Alberto
Bornschein.
Na empresa há mais de 30 anos, o
profissional assumiu a presidência em 1992 – já superou as duas
décadas como presidente, portanto -, e por isso tem experiência no
ambiente para falar sobre as perspectivas que são passadas ao corpo
de funcionários. O que, segundo ele, faz com que a rotatividade não
seja grande.
“A constante expansão da companhia
somada à nossa política de treinar intensivamente e prestigiar a
prata da casa são fatores que incentivam e mostram as oportunidades
de desenvolvimento para todos os nossos funcionários”,
conclui.
Diante dessas práticas que fazem
com que essas companhias tenham um bom controle do vai e vem de
colaboradores, o professor Idalberto Chiavenato, especialista na
área de Administração e Recursos Humanos, conhece bem os custos da
rotatividade pessoal, sejam os chamados primários (recrutamento,
seleção, registro, desligamento), secundários (reflexos na
produção, na atitude e custos extra-operacionais) ou terciários
(extra-investimentos e perdas nos negócios).
Por isso, acredita que uma série
de iniciativas precisam ser trabalhadas em conjunto para manter
baixo esse índice de entrada e saída de pessoas. “Todas estas ações
devem estar intimamente integradas, agrupadas e alinhadas de tal
maneira que possam se reforçar mutuamente e provocar uma sensação
duradoura de confiabilidade, credibilidade, bem-estar, satisfação e
orgulho em trabalhar e permanecer na empresa. Um conjunto de elos
de uma corrente solidária que envolve toda a empresa, seus líderes,
suas equipes e todas as pessoas envolvidas. Mais do que as
políticas e processos internos, o que vale realmente é esse mutirão
de esforços de todos no sentido de criar um ambiente de trabalho
capaz de engajar e manter definitivamente as pessoas na empresa,
substituindo cadeias por atratores”.