Praticar corrida em ruas movimentadas de São Paulo, na presença
de poluentes e de altas temperaturas, pode prejudicar atletas e
amadores. A poluição por ozônio, associada ao calor e à umidade,
leva a uma queda de performance dos corredores, além de resultar em
danos precoces na mucosa que reveste todo o trato respiratório.
A conclusão é de uma pesquisa apresentada recentemente no I
Simpósio Brasileiro de Imunologia do Esporte, na Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp). O estudo foi desenvolvido por uma
pesquisadora brasileira na Universidade de Edimburgo Napier, na
Escócia. Os resultados levaram a uma segunda pesquisa, que concluiu
que suplementação com vitaminas C e E, por seu caráter
antioxidante, pode minimizar o impacto da poluição na saúde e na
performance dos atletas.
Participaram da pesquisa 10 atletas profissionais que se
submeteram a corridas de 8 quilômetros na esteira em câmaras que
simulavam condições climáticas distintas. A mesma distância foi
percorrida em quatro ambientes que proporcionavam intensidades
diferentes de exposição ao ozônio, à temperatura e à umidade.
A corrida no ambiente quente, úmido e poluído por ozônio trouxe
piora no tempo dos atletas - uma média de 10% em relação ao dos que
fizeram o exercício nas condições ideais. Os batimentos cardíacos
também aumentaram sob a influência da poluição. Além disso, exames
de sangue e testes feitos na secreção nasal dos participantes
mostraram dano inflamatório no revestimento do trato respiratório e
marcadores de estresse oxidativo.
"Quando a pessoa está fazendo exercício, inspira um volume de ar
maior. Assim, inspira mais poluentes, que atingem níveis mais
profundos do pulmão", diz Elisa.
Hipertensão. A médica Rica Buchler, coordenadora de cardiologia
do Salomão Zoppi Diagnósticos, explica que os gases presentes na
poluição competem com o oxigênio no sangue. Isso torna o atleta
mais propenso à hipertensão, ao infarto e ao acidente vascular
cerebral (AVC). Ela cita que alguns estudos também avaliam a
possibilidade de o ozônio piorar o quadro de depósito de colesterol
nas artérias, comprometendo ainda mais a saúde cardíaca. A
poluição, além disso, aumenta os riscos de problemas pulmonares.
"Quando a poluição é muito grande, recomenda-se que se faça
exercício na academia", diz Rica.
Pablius Braga, coordenador do Centro de Medicina do Esporte do
Hospital 9 de Julho, afirma que o principal problema decorrente da
corrida em ambientes poluídos não é o efeito agudo em um único dia,
mas a repetição da prática que pode tornar o atleta mais suscetível
principalmente a problemas respiratórios, por causa do ressecamento
das vias aéreas. "Também não dá para esperar resultados altamente
expressivos quando se está em um ambiente assim", diz Braga.
Quem tem o hábito de correr na rua percebe o quanto a presença dos
poluentes faz diferença. É o caso do engenheiro Alan de Almeida
Flores Garcia, de 28 anos. Praticante de corrida há seis anos, ele
não troca as ruas pela esteira. Ele costuma ir de Pinheiros até o
Ibirapuera, onde pratica nas ruas ao redor do parque.
A consequência é que, em dias e locais poluídos, o desconforto é
bem maior. "Não sinto tanta diferença no rendimento, mas sinto que
estou me esforçando mais e também um incômodo na respiração."
Semanalmente, ele corre de 18 a 25 quilômetros de manhã ou no fim
da tarde.