Para atrair médicos portugueses ao Brasil, os governos dos dois
países discutem mecanismos para promover o reconhecimento mútuo de
diplomas de medicina, concedendo autorização para que profissionais
formados na universidade de um país possam atuar no outro. A
possibilidade foi tratada em encontro entre os ministros da Saúde
do Brasil, Alexandre Padilha, e de Portugal, Paulo Macedo, em
reunião em Lisboa na última segunda-feira (10). A ação faz parte do
conjunto de medidas para enfrentar o déficit de médicos no
Brasil.
Este mecanismo já estava previsto entre Brasil e Portugal por meio
do Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta, em vigor desde 2000,
mas não contava com envolvimento direto dos ministérios da saúde,
que devem fechar acordo sobre o tema nesta semana.
A alternativa é adotada por outros países com similaridade na
língua para facilitar o intercâmbio de profissionais, como é o caso
do Canadá e dos Estados Unidos e os que fazem parte da União
Europeia. Entretanto, essa iniciativa tem gerado polêmica entre as
entidades que representam os profissionais e gestores do setor, que
têm se colocado contra, dizendo que esses médicos não estariam
preparadas para atender a população brasileira, entre outros
aspectos.
O diálogo do Ministério da Saúde com Portugal iniciou em maio,
durante a 66ª Assembleia Mundial da Saúde em Genebra, quando o país
europeu apresentou sua experiência de fixação, provimento e atração
de médicos estrangeiros. O país europeu tem cerca de 200 médicos
formados fora do país em seu sistema de saúde, que atuam por um
período temporário na atenção básica em áreas de difícil
provimento. Além de Portugal, houve conversas com Espanha, Reino
Unido, Canadá, Austrália e Estados Unidos.
FALTA DE MÉDICOS – Segundo o Ministério, o déficit de médicos no
Brasil é um dos principais gargalos para ampliar o atendimento no
Sistema Único de Saúde (SUS). O Brasil tem atualmente 1,8 médicos
para cada mil habitantes, índice abaixo de outros latino-americanos
como Argentina (3,2) e México (2). Para igualar-se a média de 2,7
médicos por mil habitantes registrada na Inglaterra, que possui um
sistema de saúde público e universal que inspirou o SUS, o país
precisaria ter hoje mais 168.424 médicos.
Ao longo dos últimos dez anos, o número de postos de emprego formal
criados para médicos no Brasil ultrapassa em 54 mil os de graduados
– surgiram 147 mil vagas neste mercado de trabalho, contra 93 mil
profissionais formados, conforme dados do Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados (Caged).
A este quadro de carência de profissionais, soma-se a perspectiva
de contratação de 35.073 médicos para trabalhar nas unidades
públicas, cuja construção está sendo custeada com recursos do
Ministério da Saúde até 2014.
MEDIDAS DO GOVERNO – O governo federal tem investido em ações para
levar médicos brasileiros às periferias de grandes cidades e
interior do país, como a ampliação das vagas de graduação em
medicina nessas regiões. Até 2014, estão previstas 2.415 novas
vagas. Além disso, este ano, por meio do Programa de Valorização do
Profissional da Atenção Básica (Provab), cerca de 3.800 médicos
estão atuando nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de regiões que
enfrentavam dificuldade de contratação de médicos.
Nesta iniciativa, o Ministério da Saúde oferece bolsa de R$ 8.000,
atividade supervisionada, curso de especialização em Saúde da
Família, além de pontuação adicional de 10% nas provas de
residência para os que forem bem avaliados. Apesar disso, o Provab
só conseguiu atender a 29% das demandas apresentadas pelos gestores
e 55% dos municípios não atraíram sequer um profissional.
Pela primeira vez, abriu uma linha de financiamento da ordem de R$
1,6 bilhão para reforma, ampliação e construção de Unidades Básicas
de Saúde (UBS).