Presidente da Fehosp, José Oliveira, diz
que falta de critério adequado do SUS ou a simples insuficiência de
verba pública criam sequelas
Em época de campanha eleitoral, a saúde está na boca dos políticos.
Não é a toa que o tema seja tão valorizado na busca pelos votos. De
acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Ibope, a saúde é a
primeira prioridade de 63% dos entrevistados. Construção de novos
hospitais, contratação de mais médicos, distribuição de remédios ao
povo. As promessas mudam a cada ano. O que não muda é o desânimo de
cada um dos milhões de brasileiros que sofrem nas mãos da Saúde
Pública.
Enquanto os políticos fogem da raiz do problema e cuidam de
superficialidades, o sistema piora cada vez mais, assim como a
saúde do brasileiro. Meses para marcar uma consulta, falta de
médicos em postos de saúde e falhas na distribuição de remédios são
só algumas das dificuldades que fazem parte do dia a dia de quem
precisa do Sistema Único de Saúde (SUS).
A falta de critério adequado do SUS ou muitas vezes a simples
insuficiência de verba pública criam sequelas para a saúde pública
do País. Como consequência, as Santas Casas e os hospitais
beneficentes, que deveriam receber apoio do Estado, recorrem
constantemente a emendas parlamentares e doadores, na falta de
recursos correntes.
O problema é facilmente perceptível quando se analisa a Tabela SUS,
por exemplo. A ferramenta está muito longe do custo dos
procedimentos e milhares de quilômetros de distância do preço de
mercado. Os valores pagos pelo SUS correspondem, em média, a apenas
60% do custo real, aproximadamente. Em razão disso, problemas
financeiros são cada vez mais comuns entre as entidades.
Segundo levantamentos a dívida dos hospitais beneficentes no Brasil
chega a R$ 1,8 bilhão. Só no Estado de São Paulo, mais de 23
entidades beneficentes fecharam as portas nos últimos cinco anos.
Provedores e administradores têm de procurar diversas alternativas
para não terminar o mês com as contas no vermelho, o que
infelizmente se tornou corriqueiro.
Como uma forma de solucionar a questão, ou no mínimo amenizá-la, há
10 anos surgiu a Emenda Constitucional 29. Por meio de uma
contribuição social, ela destinaria anualmente R$ 12 bilhões para a
saúde pública, além de estabelecer um percentual mínimo de
investimento para a área. Desde 2008, existe um projeto de lei no
Congresso Nacional pedindo a regulamentação da emenda, mas até hoje
aguarda votação no Plenário. Apesar de alguns representantes
políticos enfatizarem a necessidade da aprovação da EC 29, a falta
de comprometimento de tantos outros é grande.
Por mais contraditório que pareça, também não há como negar o
avanço do SUS em seus 22 anos. A quase total erradicação da
poliomielite, o tratamento avançado da Aids, a criação de uma das
maiores redes de transplantes do mundo são algumas das grandes
conquistas deste modelo. A questão é: como se explica o fato de que
o Brasil pode sanar necessidades tão complexas e se omitir quando o
paciente precisa de um simples exame ou de uma consulta com um
especialista?
|