Pesquisa
aponta que quase 67% dos erros se referem ao preparo e mais de 87%
são erros relacionados à administração de
medicamentos
Erros
de preparo e administração de medicamentos são comuns no ambiente
hospitalar. Este risco é ainda maior quando se trata de pacientes
pediátricos. Uma análise das ocorrências de erros desta natureza,
realizados em uma enfermaria pediátrica, apontou que quase 67% dos
erros se referem ao preparo e mais de 87% são erros relacionados à
administração de medicamentos. E a maioria dos erros está
relacionada aos processos de trabalho e não ao profissional
isoladamente.
Os
dados são da dissertaçãoapresentada
no final de abril na Escola de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), que
concluiu que os erros de administração medicamentosa, um grave
problema de saúde pública, ocorrem em todas as etapas do sistema de
medicação, trazendo prejuízos tanto para o paciente e seus
familiares quanto para os profissionais e sistemas de saúde. A
pesquisa recomenda que a detecção desses erros em potencial seja
uma rotina, apontando as fragilidades do sistema e permitindo
melhorá-lo.
A
pesquisa foi desenvolvida pela farmacêutica Suiane Baptista em uma
enfermaria pediátrica de um hospital público do Rio de Janeiro, com
orientação do pesquisador do Departamento de Administração e
Planejamento em Saúde Pública da Ensp Walter Mendes. Foram
observados os profissionais de enfermagem durante os processos de
preparo e administração de medicamentos por 23 dias, em todas as
equipes, todos os turnos (noite e dia) e dias da semana, incluindo
fins de semana.
O
tema do trabalho foi escolhido pela aluna por ser sua área de
atuação. Em sua opinião, a experiência de estar na enfermaria e
conviver com os pacientes e seus familiares, com a enfermagem e
diversos profissionais mostrou a necessidade do farmacêutico estar
mais próximo à realidade, conhecendo suas dificuldades e entendendo
a melhor forma de contribuir para a qualidade do
cuidado.
“A
participação do farmacêutico nos rounds, sua inserção no
planejamento e execução de educação permanente em conjunto com a
enfermagem, e seu auxílio na elaboração de protocolos para ao
preparo e administração podem ser os primeiros passos para a
aproximação do profissional com a realidade clínica do paciente”,
descreveu a pesquisadora.
Suiane apontou ainda algumas
políticas organizacionais que devem ser desenvolvidas, pois o
estabelecimento destas são extremamente relevantes para a resolução
de problemas que podem afetar a segurança do paciente e são
apoiadas em recomendações de diversas instituições importantes na
área.
Entre
elas: elaboração de protocolos e o monitoramento da utilização de
antimicrobianos e a elaboração de recomendações para o preparo e
administração de medicamentos; a sensibilização contínua dos
profissionais de saúde quanto a notificação de erros de medicação e
eventos adversos; a manutenção de profissionais em número
suficiente para manter a qualidade dos serviços, evitando a
sobrecarga de trabalho; ambientes de preparo mais adequados,
minimizando o número de interrupções; o envolvimento dos
acompanhantes na terapia medicamentosa; disponibilização de fonte
de informação sobre medicamentos para os profissionais;
informatização dos rótulos e da prescrição médica com suporte
clínico; a presença de um farmacêutico clínico na enfermaria;
dentro outras.
Segundo a aluna, este é um dos primeiros estudos
a investigar erros de preparo e administração de medicamentos em
pacientes pediátricos no Brasil utilizando a técnica da observação
sistemática.