Após mais de dez anos, psicólogos de todo o Brasil foram
desautorizados pela Justiça a praticar a acupuntura como
instrumento complementar no tratamento de seus pacientes. Mesmo sob
críticas dos médicos, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) havia
autorizado a prática em 2002.
Agora, conforme decisão da 1.ª Primeira Turma do Superior
Tribunal de Justiça (STJ), profissionais de Psicologia não podem
usar a acupuntura como método ou técnica complementar, uma vez que
a prática não está prevista na lei que regulamenta a profissão. O
entendimento é inédito e dá aval a um acórdão do Tribunal Regional
Federal da 1.ª Região, que já havia proibido psicólogos de exercer
a acupuntura.
"No Brasil, não existe legislação que proíba certos
profissionais da área de saúde a praticar a acupuntura. No entanto,
não se pode deduzir, a partir desse vácuo normativo, que se possa,
por intermédio de ato administrativo, como a resolução editada pelo
Conselho Federal de Psicologia, atribuir ao psicólogo a prática da
acupuntura", afirmou em seu voto o ministro Napoleão Nunes Maia
Filho.
Na decisão, Maia Filho ressaltou que o exercício da acupuntura
dependeria de autorização legal expressa, por ser idêntico a
procedimento médico invasivo, "ainda que minimamente".
O médico Fernando Genschow, diretor do Colégio Médico Brasileiro de
Acupuntura, diz que a técnica é ineficaz, caso seja aplicada
superficialmente. "A acupuntura demanda manejo e controle clínico
dos pacientes. A execução inábil pode perfurar vasos sanguíneos
importantes e provocar lesões no sistema nervoso." Segundo ele,
cerca de 12 mil médicos do País têm especialização na área.
De acordo com resolução antiga do Conselho Federal de Medicina
(CFM), a acupuntura é considerada uma especialidade médica. Em
2002, para fiscalizar a atuação de psicólogos acupunturistas, o CFP
alegou ter a ajuda da Associação Brasileira de Acupuntura. A
resolução da entidade ainda diferenciava a acupuntura de terapias
alternativas não comprovadas cientificamente. Os psicólogos eram
proibidos pelo conselho de aliar seu trabalho a florais de Bach,
tarô, chás ou homeopatia.
Fechado. A proibição da prática de acupuntura por psicólogos já
afetou diretamente o trabalho da psicóloga e acupunturista Adriana
Pereira Guedes, de 41 anos, que teve de fechar seu consultório na
Avenida Paulista. Professora universitária, ela teve medo de
continuar a praticar a acupuntura e ter problemas com os outros
títulos.
Graduada em Psicologia e mestre em Neurociências, Adriana fez
especialização em acupuntura com carga horária de 1.200 horas e
complementou seus conhecimentos na área com outra especialização em
ciências clássicas chinesas, com mais 360 horas de estudo. "O pior
dessa decisão da Justiça é que proíbe a prática até para quem
estudou e tem diploma em acupuntura.
Ela também critica o argumento de que a acupuntura é uma prática
invasiva. "Ela é minimamente invasiva. Nunca vi acidentes
envolvendo a prática da acupuntura. Além disso, recebemos
treinamento para a aplicação das agulhas." O CFP analisa a questão
e ainda não se manifestou oficialmente.