A cepa H7N9 da gripe das aves pode se disseminar entre furões e
poderia fazer o mesmo entre humanos em certas condições, revelam
estudos com animais de laboratório sobre o vírus, publicados nesta
quinta-feira (23).
Até agora não se conhecem casos de disseminação entre pessoas do
novo vírus, que infectou 131 pessoas e matou 36 desde que apareceu
na China, em março passado.
Se o vírus conseguir se espalhar facilmente entre humanos,
especialistas temem que possa provocar uma pandemia generalizada.
Estudos com animais são o primeiro passo para compreender quão
facilmente o patógeno pode se espalhar entre as pessoas.
"O vírus da influenza H7N9 é infeccioso e transmissível entre
mamíferos", destacou o estudo publicado na revista científica
americana Science, conduzida por cientistas da Universidade
Shantou, da Universidade de Hong Kong, em conjunto com colegas dos
Estados Unidos e do Canadá.
"Em condições adequadas, a transmissão homem a homem do vírus
H7N9 pode ser possível", acrescentou o estudo.
Os cientistas infectaram furões em laboratório com uma amostra
de H7N9 retirada de uma das pessoas que morreram em consequência
dele, e descobriram que o vírus se espalhou entre furões por
contato direto, destacou o estudo.
O vírus também revelou ser transmissível pelo ar, embora apenas
um dos três furões testadostenha ficado doente desta forma.
O estudo também fez testes com porcos, que são considerados mais
próximos aos humanos do que os furões e revelou que os porcos
poderiam se tornar infectados, mas que eles não transmitiam o vírus
entre si.
"Embora o estudo tenha demonstrado que um porco infectou outro
porco facilmente, então ficaria mais preocupado", disse Anthony
Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças
Infecciosas.
Fauci, que não participou do estudo, disse que as descobertas
deveriam ser interpretadas com cuidado.
"Em circunstâncias muito experimentais, um mamífero pode
infectar outro por contato direto", declarou à AFP.
"Dizer que corremos agora um risco maior de uma pandemia
provavelmente é um exagero", acrescentou. "Obviamente é algo sobre
o que precisamos nos manter vigilantes para garantir que entendamos
o vírus melhor", emendou.
Os furões que foram infectados não demonstraram sintomas da
doença imediatamente, mesmo o vírus estando presente em suas
secreções nasais, o que os autores do estudo viram ser típico na
pandemia e na gripe sazonal.
Depois de autópsia realizada nos animais infectados, o vírus
demonstrou se replicar tanto no trato respiratório superior quanto
no inferior, e o RNA viral foi detectado na traqueia, os pulmões,
nos nódulos linfáticos e nos cérebros dos furões.
"Parece-me significativa uma quantidade tal de vírus chegando ao
cérebro", disse Suresh Mittal, especialista em gripe aviária e
professor de patologia comparativa da Universidade Purdue.
Mittal, que não participou do estudo, disse não ser comum para
alguns vírus altamente patogênicos alcançarem o cérebro, mas isto
não é comumente visto em pandemias de gripe humana e é necessário
fazer mais pesquisas.
"Os médicos serão mais cautelosos ao acompanhar pacientes e ver
se eles desenvolvem sinais de encefalite ou não", afirmou à
AFP.
Alguns sintomas precisam incluir confusão, tontura, fortes dores de
cabeça e no pescoço, disse.
De modo geral, Mittal afirmou que o estudo parece ter sido bem
feito e forneceu indícios importantes sobre a transmissibilidade do
vírus.
"O vírus parece perigoso porque não infecta humanos e mesmo em
porcos o vírus sai das secreções nasais", afirmou.
Ele disse que as granjas e fazendas de criações de porcos são
comumente separadas na América do Norte, reduzindo a probabilidade
de que um vírus aviário possa saltar para um hospedeiro suíno e,
eventualmente, infectar humanos.
"Mas na China, elas podem não ser separadas, portanto as chances de
que porcos venham a se contaminar com um vírus aviário são muito
maiores", disse.