Empresas de saúde demandam profissionais
especializados na área, que entendam as especificidades do setor
para convergir saúde e TI
O acesso à tecnologia na saúde é um dos principais entraves
encontrados pelos hospitais para a modernização de suas unidades.
Porém, outro problema igualmente preocupante é a falta de
profissionais especializados em informática em saúde para trabalhar
nas instituições e acompanhar as novas tecnologias voltadas ao
setor.
Estes profissionais são responsáveis pela convergência entre as
áreas clínica e tecnológica, atuando principalmente com sistemas de
informação em saúde, prontuários eletrônicos, telemedicina,
sistemas de apoio à decisão médica, processamento de sinais
biológicos e imagens médicas, internet em saúde e na padronização
da informação - vital para a comunicação entre diferentes sistemas
de registro eletrônico em saúde.
A demanda criada pela indústria de soluções em TI e hospitais
públicos e privados cresceu de tal forma que, hoje, um profissional
recém- formado em informática em saúde recebe até R$ 5 mil de
salário inicial. "Há, no Brasil, cerca de 7 mil instituições de
saúde e menos de 5% delas estão informatizadas. Por outro lado,
temos a indústria de software, soluções e consultoria em TI que
também buscam esses profissionais. Falta gente para atender a essa
demanda", enfatiza o diretor de ensino da Sociedade Brasileira
de Informática em Saúde (Sbis), Renato Sabbatini.
De acordo com Sabbatini, estes profissionais ainda são raros e
muito disputados no mercado nacional devido ao desconhecimento
dessa especialidade. "O crescimento de cursos de graduação e
pós-graduação nesta área estão incrementando aos poucos este
mercado, porém, a quantidade ainda é muito pequena, cerca de 40
profissionais são formados todos os anos".
Baseado em modelos internacionais de qualificação, a Sbis busca
formas de aumentar a quantidade de informatas em saúde no Brasil,
sem perder a qualidade no ensino oferecido. "Buscamos parcerias
com outros países, principalmente o Canadá, que possui um sistema
de formação similar ao nosso, porém mais consolidado. Para tentar
atender esta demanda nós desenvolvemos um programa chamado Sbis+20
que pretende qualificar cerca de 20 mil profissionais em
informática em saúde até 2020", acrescenta Sabbatini.
Para a consultora de informática no setor, Beatriz Leão, a falta de
reconhecimento do informata em saúde como um profissional
interdisciplinar prejudica no processo formação, uma vez que faltam
políticas públicas de incentivo como bolsas para pesquisa
científica para que eles possam colaborar com a implementação de
sistemas no setor. Segundo Beatriz, a falta de regulamentação da
profissão não é um problema, mas o Brasil poderia aprender com
países como Holanda, Suíça, Dinamarca, Canadá e Austrália que
identificaram um conjunto de competências para os profissionais da
área e capacitá-los para atender as demandas existentes.
Uma ferramenta que está sendo estudada pelo Brasil como meio de
incentivar e manter a qualidade dos profissionais de informática em
saúde é a implantação de certificações que assegurem a capacidade
destes profissionais de atuar. "O que pode ser feito é
identificar um conjunto de competências e capacitar os
profissionais nestes itens e, eventualmente, certificá-los por meio
de entidades como a Sbis mostrando que este profissional foi
aprovado em um programa de certificação nestes conteúdos. Esse
mesmo modelo existe com grande sucesso na Inglaterra e grande parte
da Europa. Eu acredito que o Brasil poderia seguir este mesmo
caminho, como foi feito também pelo Canadá que está nos auxiliando
a implementar este modelo no País", acrescenta Beatriz.
Mercado
Por ser um profissional raro no mercado, algumas soluções
encontradas pelo setor para sanar esta demanda são a capacitação de
profissionais de TI nos processos hospitalares e a qualificação de
profissionais de saúde em tecnologia da informação. De acordo com a
CIO do Hospital Sírio Libanês, Margareth Ortiz, além da dificuldade
de encontrar pessoas para o setor, reter estes profissionais
tornou-se um grande desafio para os hospitais que disputam o
profissional diretamente com outros segmentos do setor. "Existe
uma tendência entre os profissionais da área de comparar salários
de hospitais para hospitais, e isso é um problema, pois na verdade
quem vai roubar o profissional das instituições de saúde são as
grandes empresas de TI. Uma solução para isso é estabelecer
políticas eficientes de RH, oferecer planos de carreira para eles e
ter salários compatíveis com o mercado que não seja o de
saúde".
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