Quarta-feira, 12h19. Mulher de 48 anos dá entrada na emergência
do Hospital Municipal do M’Boi Mirim, zona sul da capital. Os
sintomas apontam para um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Após ser
submetida a exames e procedimentos de urgência, a paciente recebe
uma segunda avaliação. A consulta é online. A 17,5 km de distância,
o neurologista Agnaldo da Costa confirma o diagnóstico e orienta o
tratamento. Tendência mundial para acelerar o atendimento e
otimizar recursos, a telemedicina já é realidade em São Paulo.
A conferência, presenciada pelo Estado na semana passada,
ocorreu em uma sala de plantão do Albert Einstein, no Morumbi,
também zona sul. O hospital mantém convênio com o Ministério da
Saúde para dar suporte a outros de menor complexidade. Além da
unidade do M’Boi Mirim, participam do programa centros de Manaus,
João Pessoa e Brasília de Minas (MG). Outros oito candidatos serão
avaliados.
A comunicação é simples e não exige tecnologia sofisticada. Para
que duas equipes médicas entrem em contato, bastam dois
computadores equipados com câmeras de alta resolução, microfone e
softwares específicos, além de acesso à internet sem fio. Pelo
canal, médicos emergencistas e especialistas discutem
procedimentos, avaliam exames, indicam medicação, cirurgias e até
fecham diagnóstico de morte encefálica.
“Pela câmera, nosso colega de São Paulo pode ver o paciente e
conversar com ele. Pode ainda acompanhar uma ronda médica pela UTI,
já que o sistema funciona em um carrinho portátil. Para quem está
distante, como nós, essa é uma chance de integração”, diz Alexandre
Bichara da Cunha, diretor do Hospital Doutor Platão Araújo, na
periferia de Manaus.
Com investimento de R$ 14 milhões, o programa funciona 24 horas,
sete dias por semana. No plantão do Einstein, 280 casos foram
atendidos nos últimos 12 meses. O balanço mostra que a opinião de
um neurologista é a que registra maior demanda. O déficit explica a
procura - segundo censo médico, há apenas 3,2 mil neurologistas no
Brasil e a grande maioria está concentrada no Sudeste.
“O programa tenta igualar um pouco esse desequilíbrio. A
telemedicina é uma ferramenta possível hoje e deve ser considerada.
Ela encurta distâncias, otimizando tempo, economizando recursos e
aumentando a chance de salvação”, diz Milton Steinman, responsável
pela Telemedicina no Albert Einstein.
Para Agnaldo da Costa, trata-se de uma troca de experiências que
só pode ser favorável. “No cenário da emergência, a abordagem
inicial faz toda a diferença. E não importa a distância. Quem eu
atendo pela câmera é meu paciente.”
Tablet. A tecnologia que permite consultas a distância já
proporciona a realização de exames e até avaliações clínicas
corriqueiras, como a ausculta cardíaca. Por meio de um software
específico, as batidas do coração podem ser “compartilhadas” pela
rede. E tudo pode ser visualizado diretamente do tablet ou
smartphone com Wi-Fi.
Fundadora e presidente da Hospitalar - principal feira do setor
-, Waleska Santos afirma que o mercado cresce vertiginosamente. “A
telemedicina, que hoje é usada também para ajudar na confecção de
laudos de exames, ainda será a principal arma para aprimorar e
humanizar o homecare e reduzir as idas ao hospital.”