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A indústria de seguros terá de se reestruturar para o Open Insurance

Fonte: CQCS Data: 01 julho 2022 Nenhum comentário

O baixo investimento em obras de infraestrutura, o desinteresse de pequenas e médias empresas, que consideram o seguro muito caro, e as assimetrias geradas pela crise sanitária, cujo impacto nas companhias seguradoras foi sentido ao longo de 2021, pressionam os resutados das empresas de seguros, que terão de enfrentar mais concorrência com o Open Insurance. Para Jorge Sant’Anna, a maior penetração do seguro no País depende de uma conjugação de crescimento econômico e uso de tecnologias capazes de reduzir o custo dos prêmios e elevar o valor das coberturas.

DINHEIRO – Qual o panorama atual do mercado de seguros no Brasil?
JORGE SANT’ANNA — Infelizmente, o seguro no Brasil é extremamente deprimido. Dependendo da medida, ele chega no máximo a 2% do PIB, muito inferior a qualquer país com o qual se compare. Isso não é de hoje, e durante a pandemia só piorou. É verdade que houve um crescimento razoável do prêmio, da ordem de 21%. Mas, excluindo saúde e previdência, a indústria de seguros teve resultado líquido extremamente negativo, com destruição massiva de valor.

Se o prêmio aumentou, por que o resultado das empresas do setor caiu?
A empresa de seguro faz muito resultado com aplicação financeira. Todo o dinheiro que eu recebo do segurado tenho que guardar e só reconheço isso com o passar do tempo. O resultado combinado é a soma do que foi gerado na operação com o do investimento financeiro. Isso começa a ter uma ajuda agora com a Selic crescendo. As empresas passam a se recuperar, mas não pela operação em si. Segundo dados da Susep [Superintendência de Seguros Privados, autarquia da administração pública federal], até abril de 2022 contra mesmo período de 2021 o crescimento de prêmio foi de 17%, enquanto o do lucro líquido foi de 37%. No meu entender, o resultado das margens só irá retomar o nível de 2019 a partir de 2023. Este ano ainda é complexo.

A taxa de juros baixa explica o resultado ter caído pela metade em dois anos?
Em 2020 houve uma certa resiliência no segmento de automóveis. A sinistralidade foi menor devido aos lockdowns e a taxa de juros ainda não estava tão deprimida. Em 2021, a sinistralidade em automóveis e em vida começa a aparecer com maior intensidade. Outro fator importante é que pessoas físicas e pequenas empresas, que deixaram de contratar ou de renovar seus seguros por causa da crise, simplesmente deixaram de pagar os seguros já contratados. O índice de produção foi menor, a inadimplência cresceu e a rentabilidade ficou comprometida. Isso deve melhorar agora por conta do oxigênio do resultado financeiro, não pela operação.

E a sinistralidade do segmento saúde? Cresceu ou caiu após a pandemia?
Quem opera seguros de saúde passou bem esses últimos dois anos, mas agora há alguns fatores de perda de rentabilidade. Por exemplo, a telemedicina. Ela é uma maravilha para o paciente, mas se torna um grande ofensor do ponto de vista da sinistralidade porque as pessoas passam a fazer consultas com mais frequência, muitas em busca de uma segunda ou terceira opinião. E os médicos, até por falta de condições ideais de anamnese, acabam pedindo mais exames. Esse foi o primeiro drive do aumentou do nível de sinistralidade na saúde. O segundo drive foi o acúmulo de coisas não resolvidas durante os primeiros anos da pandemia. Nós nunca tivemos um índice tão pequeno de identificação de câncer quanto em 2020 e 2021. E nunca tivemos, como agora em 2022, tanta detecção de câncer em níveis mais avançados. Parte desse acúmulo é transitória para a saúde, parte não.

Ao mesmo tempo, o investimento em infraestrutura também foi inexpressivo…
A infraestrutura seria um grande vetor de crescimento não só dos seguros, com o seguro garantia, o seguro engenharia, como também do Brasil. Mas ela andou de lado nesses últimos anos. A despeito da competência do ministro Tarcisio de Freitas, a gente não conseguiu em momento algum fazer o que o governo dizia lá no início. A ideia era chegar a 2022 com um investimento de R$ 250 bilhões a R$ 300 bilhões. Chegamos a R$ 148 bilhões até agora. Isso significa 1,7% do PIB. É muito abaixo do número preconizado por todos os especialistas da área, que consideram o investimento necessário para a infraestrutura entre 4% e 5% do PIB. Com 1,7%, fica impossível até repor a depreciação das obras existentes. O baixo investimento em infraestrutura levou a uma queda nos grandes seguros, que geram valores altos.

Se a indústria de seguros está em um momento fragilizado, a tendência é investir menos, inclusive em tecnologia, o que poderia ajudá-la a crescer. Qual a saída?
No mundo, o avanço das startups de seguro, chamadas insurtechs, se dá mais na distribuição. Segundo um relatório recente da Accenture, em 2025, o prêmio emitido em seguro, excluindo saúde e previdência, será de US$ 7,5 trilhões. Desse total, mais de US$ 1 trilhão virá da inovação, parte em novos riscos, parte em novos produtos. Um exemplo é o seguro embutido em algum outro produto. Quando você faz a assinatura de um carro, está contratando um seguro. É uma mudança de conceito: do B2C, com uma grande empresa vendendo seguro para um cliente, avançamos para o B2B2C, onde quem negocia o seguro não é mais a pessoa física e sim uma grande empresa, como a Localiza, que pelo volume de negociação que faz com a seguradora consegue pagar uma comissão muito menor. Esses seguros embutidos não serão mais comercializados por corretores e sim por plataformas. Outro impacto forte da tecnologia é na digitalização das subscrições. Nos Estados Unidos, pelo celular você contrata um seguro de vida, automóvel e residencial em 30 segundos. E mais: ele paga em até três minutos. Isso é possível pelos recursos de inteligência artificial que permitem conhecer muito bem cada cliente e planejar as perdas. A lógica de analytics faz com que ele não perca.

A tecnologia também está na base do Open Insurance, que prevê aumentar a concorrência no setor. Qual impacto nas empresas tradicionais?
O que o Open Insurance vai fazer é pegar todo o seu histórico, calcular o risco e buscar as melhores ofertas no mercado. Você vai pagar menos corretagem, um prêmio menor e a sua cobertura irá aumentar. Será uma porrada no resultado das seguradoras. E o único jeito de resolver isso é aumentar a penetração. Hoje, no Brasil, a penetração no mercado de automóveis, pegando toda a frota, é de 16%. Nos Estados Unidos, 80%. Se a seguradora diminuir pela metade o preço da contratação da cobertura e a penetração saltar de 16% para 30%, nenhum tostão seria perdido.

E como reduzir o preço do seguro?
Entrando com novas tecnologias, que permitem contratar o seguro intermitente, baseado em uso. Isso é muito difícil para as empresas que hoje têm toda a receita baseada em um seguro 24/7. A ciência de dados permite calcular agravamentos de risco para premiar ou punir segurado de acordo com seu comportamento. Esse aprendizado é contínuo. Seguros inteligentes vão proporcionar melhores resultados para as companhias, mas a inovação impõe uma perda de receita imediata. É por isso que normalmente quem faz a disrupção não é a empresa líder. A Amazon montou uma seguradora na Índia para vender uma série de produtos que ela não conseguia encontrar no mercado.

O Open Insurance permitirá a outras empresas disputar o mercado?
A indústria de seguros que está no mercado hoje terá de se reestruturar para esse novo modelo. Nossa estimativa é que desde 2020 algo como 3 milhões de pequenas empresas no Brasil tiveram algum tipo de sinistro para o qual não haviam contratado seguro. Muitas provavelmente desapareceram em função disso. Entender as necessidades do cliente para oferecer os produtos adequados é fundamental para se manter nesse novo mercado. E isso dá a chance para os entrantes.

E quem seriam eles?
Todos os bancos digitais estão com programas de seguros embarcados em seus produtos financeiros. Eles têm tecnologia, conhecem os clientes e podem fazer ofertas que os grandes não conseguem. Por outro lado, o peso regulatório do setor é tão grande que as fintechs são incapazes de atender plenamente.

A implementação total do Open Insurance vai criar um novo tipo de empresa, a iniciadora de serviços de seguros. É o fim do corretor?
O corretor será uma figura de relacionamento e terá de ajudar as empresas a se adequar à nova jornada do cliente. Porque as sociedades iniciadoras de serviços de seguro passarão a oferecer produtos altamente diferenciados. O corretor hoje não tem interesse em vender um seguro empresarial porque a margem dele é pequena. O banco faz pior ainda: obriga quem pede capital de giro a contratar seguro. Isso tudo leva às penetrações baixíssimas que temos hoje.

O Open Insurance pode facilitar a venda de seguros para a baixa renda?
Para chegar à baixa renda, o que fará a diferença é o Pix. Ele permite contratar seguros de menor valor sem gerar custo adicional. Se a seguradora emitir um boleto para um seguro de R$ 60, cerca de 15% disso fica com o banco.

 

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