O Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro estima que, para
resolver o problema da falta de profissionais de medicina nos seis
hospitais federais da capital fluminense, é necessário pelo menos
mais 1.500 médicos e rever a atual política de contratação.
“Salários incompatíveis com o mercado e concursos temporários têm
provocado a evasão de médicos da rede de saúde pública. Mão de obra
temporária é uma medida que tem se mostrado ineficaz em todo o
Brasil. O governo federal precisa rever sua política de recursos
humanos. Não adianta ter uma grande estrutura com essa falência de
recursos humanos”, disse o presidente do sindicato, Jorge
Darze.
Os hospitais federais no Rio de Janeiro são os do Andaraí, de
Bonsucesso, zona norte, Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, de Ipanema
e da Lagoa, na zona sul, e dos Servidores do Estado, zona
portuária.
Em visita ao Rio de Janeiro, no mês passado, quando anunciou a
criação de leitos em hospitais públicos, o ministro da Saúde,
Alexandre Padilha, admitiu que faltam médicos nas unidades
federais, mas defendeu que a carência desse tipo de mão de obra
ocorre, principalmente, porque poucos profissionais de qualidade
estão sendo formados.
“Nossos números mostram isso. Não adianta ter apenas mais médicos,
precisamos de profissionais formados para as necessidades de saúde
da população. O Brasil precisa de um plano estratégico de formação
de médicos”. Padilha ressaltou que enquanto o Brasil tem 1,8
médicos por mil habitantes, Espanha e Portugal têm mais de três por
mil habitantes, Cuba tem seis por mil habitantes e a vizinha
Argentina, três médicos por mil habitantes.
Na opinião do secretário-geral e coordenador da Comissão de
Saúde Pública do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro
(Cremerj), Pablo Vazquez, não adianta criar novos leitos se não há
médicos para cuidar dos pacientes. Ele acredita que existe um
grande número de aposentadorias de médicos sem que haja reposição
na mesma velocidade. “No CTI [Centro de Tratamento Intensivo]
Pediátrico do Hospital Cardoso Fontes, por exemplo, leitos foram
fechados porque os médicos se aposentaram e não foram contratados
substitutos. O principal problema na saúde do Rio é a falta de
recursos humanos”, ressaltou.
Para o defensor público federal Daniel Macedo, titular do 2º Ofício
de Direitos Humanos e Tutela Coletiva, o recente episódio de filas
quilométricas no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia
(Into), no centro, é um exemplo da falta de material humano nas
instituições de saúde federais no Rio de Janeiro.
“Enquanto a população cresce o número de leitos diminui. Esse
último caso que ocorreu com o Into demonstra as mazelas no trato
com a saúde. O governo realmente virou as cosas para a saúde e acho
que o Brasil vai passar vergonha nos grandes eventos esportivos”,
disse. “Outro exemplo é a emergência do Hospital Federal de
Bonsucesso (HFB), na zona norte, que funciona há quase dois anos
provisoriamente em contêineres instalados em uma área próxima do
estacionamento do hospital.
O defensor lembrou que além dos problemas originados pela falta
de médicos, o Rio de Janeiro perdeu mais de 7 mil leitos do Sistema
Único de Saúde (SUS) entre 2005 e 2012, de acordo com estudo do
Conselho Federal de Medicina (CFM), divulgado em setembro. O número
corresponde a 18% do total de vagas públicas. Proporcionalmente,
foi a terceira maior perda entre as unidades da Federação.
O ministro Padilha explicou que a diminuição do número de leitos
está relacionado com o fechamento de leitos psiquiátricos. “Agora
estamos abrindo os leitos que têm o perfil das novas demandas de
saúde da população”, destacou. “O Brasil reduziu de forma correta
mais de 20 mil leitos psiquiátricos, que eram manicômios. Abrir
leito sem qualidade no atendimento, equipamentos e sem suprir a
necessidade daquele local de saúde responde adequadamente à
necessidade da população”, explicou.