No dia em que o governo perdeu a primeira batalha do programa
Mais Médicos no Congresso Nacional, sem conseguir instalar a
comissão especial que vai analisar a Medida Provisória que cria a
ação, o Senado aprovou por unanimidade uma proposta de emenda
constitucional que permite a atuação de médicos militares no
Sistema Único de Saúde (SUS). Hoje, os profissionais das Forças
Armadas não podem acumular funções fora da área militar nas redes
pública e particular de saúde.
A intenção é que a PEC se some às iniciativas já tomadas pelo
governo federal para tentar garantir a melhoria do atendimento à
saúde com o Mais Médicos. Segundo o Ministério da Defesa, hoje 3,8
mil militares atuam na área médica - 2,6 mil militares de carreira
e 1,2 mil temporários, que podem atuar por até 8 anos. A ideia é
que eles se somem aos 938 profissionais que já aderiram ao programa
- apenas 6% da demanda existente hoje nos quadros da atenção básica
do SUS. Também estão incluídos médicos da Polícia Militar e de
Corpo de Bombeiros.
A emenda segue agora para a Câmara dos Deputados, onde o
ministro da Saúde, Alexandre Padilha já pediu prioridade. "Já
conversei com o presidente da Câmara (deputado Henrique Eduardo
Alves) para que, assim que chegue lá, vote o mais rápido
possível."
Com isso, os profissionais que já atuam em fronteiras e em
cidades do interior passariam a exercer expediente duplo para
atender à demanda por profissionais em regiões onde médicos civis
não desejam atuar. De acordo com o Ministério da Saúde, as mais de
3,5 mil cidades que aderiram ao programa ainda têm uma demanda de
14,5 mil médicos. "Esses profissionais poderão atender pelo SUS por
meio de contratos com prefeituras ou com os governos estaduais, mas
não vão participar do edital de bolsa e da remuneração para os
médicos brasileiros ou estrangeiros", afirmou o ministro.
Embates
Embora o governo tenha pedido urgência na aprovação da Medida
Provisória que institui o programa Mais Médicos, a instalação da
comissão formada para emitir parecer sobre a MP foi adiada para a
próxima terça-feira (13). A dificuldade de iniciar os trabalhos
ontem veio em duas frentes.
De um lado, o bloco União e Força do Senado não desistiu de
indicar o presidente da comissão. Segundo senador Gim (PTB-DF),
pelo acordo firmado no início do ano, o grupo tem direito à
indicação pelo critério de rodízio nas presidências das comissões.
O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), afirmou,
contudo, que o partido não vai abrir mão da relatoria e vai levar a
decisão a voto se não houver entendimento.
O PMDB quer indicar o senador João Alberto (PMDB-MA), enquanto o
grupo liderado pelo PTB quer indicar o senador Eduardo Amorim
(PSC-SE), que é médico, para presidir os trabalhos da comissão
mista.
Além da briga interna no Senado, contudo, o governo vai ter que
lutar contra a resistência de deputados da bancada médica,
inclusive de partidos aliados da presidente Dilma Rousseff, que
boicotaram a reunião e não registraram presença. O deputado Rogério
Carvalho (PT-SE), que provavelmente assumirá a relatoria da
comissão, já sabe que vai enfrentar uma batalha para aprovar a MP.
"Alguns deputados médicos estavam presentes na reunião, mas não
quiseram registrar presença porque não querem que a medida tramite.
Vamos ter uma batalha, mas a MP será aprovada.", destacou.