Discussão foi proposta por 11 deputados
e abordará questões como a queda no valor do ressarcimento dos
planos de saúde ao SUS
Os problemas do setor de planos de saúde serão debatidos, nesta
terça-feira (10), em audiência pública promovida por três
comissões. O debate foi proposto por 11 deputados e deverá tratar
dos seguintes temas: a queda no valor do ressarcimento dos planos
de saúde ao Sistema Único de Saúde (SUS) pelo atendimento dos seus
clientes na rede pública; o desgaste da relação de trabalho entre
os médicos e os planos de saúde; a atuação da Agência Nacional de
Saúde Suplementar (ANS) na fiscalização das operadoras; e a
necessidade de medidas de proteção aos consumidores de planos
coletivos, administrados por entidades de classe, associações e
outros. A audiência será realizada pelas comissões de Defesa do
Consumidor; de Seguridade Social e Família; e de Trabalho,
Administração e Serviço Público
O deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), um dos que propuseram o
debate, lembra que a Comissão de Defesa do Consumidor já estuda
vários projetos de lei com o intuito de melhorar a qualidade dos
serviços de saúde complementar. Em declaração, ele citou dados da
ANS que apontam, somente nos três primeiros meses deste ano, ações
de fiscalização em 187 planos de saúde em razão de problemas
econômicos ou financeiros e 75 liquidações extrajudiciais de
empresas do setor.
E afirmou que esses dados remetem à necessidade de avaliação dos
mecanismos de proteção que devem ser adotados para resguardar os
consumidores, sobretudo quando a contratação de planos de saúde é
feita por meio de entidades de classe.
Ele acredita que a audiência contribuirá para dar explicaçõe as
reclamações e críticas de pacientes e discutir medidas preventivas.
Para ele, quem acaba pagando a conta duas vezes é o paciente, com
mau atendimento e preços altos. E completou dizendo que é
necessário questionar a margem de lucro das operadoras e ver se os
médicos estão realmente recebendo pouco.
Ressarcimento
O deputado Dimas Ramalho (PPS-SP) apresentou dois requerimentos de
debate na área de planos de saúde. E pretende discutir a queda no
valor pago pelos planos ao SUS, a título de ressarcimento pelo
atendimento de clientes na rede pública.
O deputado citou levantamento publicado em janeiro pela Folha de
S.Paulo, segundo o qual em 2009 o ressarcimento foi de apenas R$
5,62 milhões - "uma queda de 31,7% em relação ao valor
ressarcido em 2007, que já era extremamente baixo".
Outro requerimento de Ramalho, também aprovado pela comissão,
propõe um debate sobre a "deterioração" da relação dos planos de
saúde com os médicos. Esse também é o assunto proposto pelo
deputado Eleuses Paiva (DEM-SP).
CPI
De acordo com o deputado Sabino Castelo Branco (PTB-AM), que também
propôs a audiência, o setor de planos de saúde é uma "caixa preta"
e precisa ser investigado. Ele está recolhendo assinaturas para
propor uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o tema. E
disse que a intenção é saber sobre a movimentação financeira; por
que as operadoras vendem planos e não cumprem os contratos; por que
não há investimento.
O deputado disse também que, atualmente, os planos contratam apenas
cooperativas de médicos que tiram a autonomia dos profissionais
para negociar diretamente preços de consultas e reajuste nos
contratos.
Sem atendimento
O presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, deputado Roberto
Santiago (PV-SP), lembrou que recentemente uma das grandes
operadoras deixou 143 mil pessoas sem atendimento e que os próprios
médicos reclamam dos valores repassados por essas empresas. E
declarou que, determinados setores da saúde pública, o cidadão é
mais bem atendido do que nos planos.
Para o deputado, é preciso cobrar a responsabilidade das empresas,
"que não estão cumprindo o seu papel social e descumprem o
Código de Defesa do Consumidor".
Segundo a Associação Médica Brasileira (AMB), os médicos atendem,
em média, oito planos ou seguros de saúde. A maioria paga entre R$
25 e R$ 40 por consulta. "Esses valores mudam de região para região
e simbolizam a indiferença dos planos com os profissionais que
respondem pela saúde da população", afirmou o deputado Eleuses
Paiva.
A assessoria de imprensa da Federação Nacional de Saúde Suplementar
(FenaSaúde), entidade que congrega 15 grupos de operadoras de
planos de saúde, defende as empresas. Segundo a entidade, o
reajuste médio do valor das consultas médicas praticado por
afiliadas variou entre 83,33% e 116,30% de 2002 até 2010. Esses
percentuais são superiores à variação do Índice de Preços ao
Consumidor Ampliado (IPCA) no mesmo período, que foi de 76,31%.
A ANS alega que não pode atuar para estabelecer um piso mínimo para
os honorários médicos nas consultas. Há pareceres do Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade), vinculado ao Ministério
da Justiça, e da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do
Ministério da Fazenda contra projetos de lei que tratem desse
tabelamento.
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