Presidente da Fenasaúde fala
sobre crescimento de demanda por procedimentos eletivos
O setor de saúde suplementar se
mantêm mobilizado para garantir, durante a pandemia do novo
coronavírus, a solidez de todo o sistema de atendimento a um quadro
de cerca de 47 milhões de beneficiários, afirma o presidente da
Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), João Alceu
Amoroso Lima. Na entrevista a seguir, Amoroso Lima observa que, no
atual momento, já se verifica um crescimento da demanda por
procedimentos eletivos, o que coincide com o afrouxamento do
isolamento.
Como o setor
de saúde suplementar tem enfrentado os desafios impostos
pela pandemia?
O setor vem lidando com toda a
crise e as dificuldades envolvendo a pandemia da Covid-19 buscando
manter o sistema suplementar sólido e atendendo bem a seus 47
milhões de beneficiários. Hoje, cerca de 90% do que os hospitais
privados recebem e em torno de 80% da receita dos laboratórios de
medicina diagnóstica vêm de repasses das operadoras. Além disso, as
operadoras repassam para os prestadores como hospitais,
laboratórios, médicos, enfermeiros etc. 85% do que recebem. Ou
seja, é toda uma cadeia de prestação de serviços que precisa estar
de pé e, até agora, neste estágio da pandemia,
a saúde suplementar tem funcionado de maneira muito
satisfatória, continuando a irrigar todo este sistema.
Fala-se muito que a
pandemia tem despertado um interesse maior da população em relação
à própria saúde. As operadoras têm observado essa
tendência?
Ainda não temos número consolidados
do período atual, mas é natural que uma consequência da epidemia
seja uma mudança cultural em relação à própria saúde. Desde 2009
existe um programa junto à ANS, o Promoprev, voltado à promoção da
saúde e à prevenção de riscos e doenças. Ele bonifica beneficiários
que aderem a iniciativas como combate ao tabagismo e ao consumo de
álcool, ao sobrepeso, à obesidade, ao planejamento familiar, à
prevenção de câncer de mama etc. São cerca de 520 programas, mas
com número, infelizmente, ainda baixo de participantes, cerca de
2,5 milhões de beneficiários, num universo de 47 milhões (5,3%),
mas com resultados muito positivos por parte das associadas. Essa
tendência do autocuidado deve ser fortalecer no
pós-pandemia.
Quais são as principais
demandas que o setor de saúde suplementar têm enfrentado
durante a pandemia?
Especificamente
na saúde suplementar, nas últimas semanas as operadoras
estão vendo sinais consistentes de aumento da demanda por
procedimentos eletivos. Isso coincide com o afrouxamento do
isolamento em vários centros urbanos e com a decisão da ANS de
retomar prazos originais de atendimento, tomada no início de junho.
Em decorrência, os pacientes estão voltando a buscar assistência.
Com o passar do tempo, tão logo tenhamos superado o pico da
disseminação do vírus, toda a demanda que esteve represada desde
março irá buscar atendimento, gerando uma pressão extra sobre o
sistema. As operadoras estão prontas para atender essa demanda, sem
ônus adicional para os pacientes.
Qual é o legado que a
pandemia do novo coronavírus deixará para o
setor?
Períodos como os atuais são de
transformações e oportunidades. O futuro deverá acelerar
mudanças que há muito são esperadas na saúde, tanto pública,
quanto privada. Servirão para melhorar o acesso, racionalizar as
estruturas de atendimento e investir melhor um recurso que se
mostra cada vez mais escassos. Entre essas mudanças, acredito que
estarão: maior ênfase na atenção primária, maior prevenção,
menor uso de hospitais, consolidação e disseminação da
telemedicina, que se tornou uma solução viável, amigável, como
ferramenta para ampliar acesso num País tão desigual quanto o
nosso. O cenário social e econômico desafiador que advirá da
pandemia exige mudança de modelos, a fim de que se facilite o
acesso de mais brasileiros aos planos. Temos que pensar em maior
segmentação, regionalização, novos modelos de franquias e
coparticipação e mais liberdade para a comercialização de planos
individuais.