Mesmo após o anúncio de que a crise
financeira não traria prejuízo aos clientes, a Saúde Samcil fechou
as portas no Grande ABC. O Hospital e Maternidade Mauá, pertencente
ao empresário Luiz Roberto Silveira Pinto, que morreu na
segunda-feira, não abriu as portas ontem. A unidade era a única da
rede que ainda prestava serviços na região.
O fechamento pegou funcionários, sindicato e mesmo clientes de
surpresa, uma vez que a Samcil desmentiu ontem o encerramento das
atividades. "Não fomos comunicados, ninguém avisou do fechamento.
Vamos esperar passar essa fase e na próxima semana procuraremos o
grupo para conversar", esclarece o presidente do SindSaúde/ABC
(Sindicato dos Trabalhadores do Setor Privado de Saúde do Grande
ABC), Waldir Tadeu David.
Entre os trabalhadores da rede, o clima é de pânico. A última
reunião feita entre a diretoria e Silveira Pinto, na segunda,
trouxe balanço que não mostrava outra opção à empresa a não ser
entregar a carteira de clientes à ANS (Agência Nacional de Saúde
Suplementar), que desde janeiro audita as finanças do grupo. "A
informação que temos é de que a dívida global da rede ultrapassa os
R$ 200 milhões e nossa única saída seria vender a carteira e pedir
a intervenção completa", conta um funcionário que prefere não
se identificar. De 2009 até aqui o grupo recuou de 710 mil vidas
para 240 mil.
Cerca de 90% da rede credenciada ao grupo já cancelou atendimentos
por falta de pagamento, e boa parte da própria também não atendeu a
ninguém ontem. No hospital Panamericano, sede da Samcil e que ainda
está funcionando, o relato de trabalhadores é de que faltam
remédios, alimentação, exames e profissionais.
Apesar do panorama, os profissionais contratados em regime de CLT
ainda não tiveram os salários atrasados, no entanto, autônomos que
prestam serviços à rede não recebem há dois meses. "Em Mauá,
todos foram orientados a desligar equipamentos e descartar
materiais", conta outro funcionário, que também prefere manter
o nome em sigilo.
Ontem, a família de Silveira Pinto participou de reunião com a
direção e pediu mais uma semana para avaliar se entregará o
hospital e decretará a falência.
Questionada sobre o problema, a empresa avisa, em nota, que
"está passando por uma transição de presidência e diretoria, e
deve manifestar-se assim que este processo transitório
terminar."
Pacientes reclamam e se revoltam com falta de informação
Os pacientes da Samcil que procuraram atendimento ontem no Hospital
e Maternidade Mauá não esconderam a revolta com o fechamento da
unidade sem aviso prévio. Durante todo o dia, o fluxo foi grande na
porta do local, com casos como o da autônoma Vanessa Damiano
Almeida, 28 anos, que teve de pagar pela consulta do filho.
"Eles (o grupo Samcil) disseram que não tinha pediatra
atendendo, somente no Hospital da Praça da República, em São Paulo.
Paguei R$ 100 na consulta do meu filho em um consultório particular
e consegui fazer os exames aqui. Hoje (ontem) vim buscá-los e dei
com a cara na porta. Um absurdo."
Com o último boleto pago no dia 1º, a autônoma questionava ainda os
R$ 180 empregados no custeio da fatura. "Se a situação estava
assim, porque me deixaram pagar? Agora se meu filho precisar de
qualquer cuidado, vou ter de correr para o Hospital Nardini
(hospital pertencente à Saúde municipal de Mauá)."
O Nardini, aliás, já foi o destino dos cinco pacientes que estavam
internados nos leitos do Hospital Mauá. "Eles foram todos
transferidos para lá, sem qualquer justificativa", reclamavam
familiares de um dos clientes, que preferiram não se identificar.
Por enquanto, apenas duas clínicas na região seguem prestando
atendimento ao grupo - em Santo André e Mauá -, mas já sinalizam a
suspensão nos próximos dias.
O Procon orienta que, para conseguir realizar qualquer consulta ou
exame, os clientes devem recorrer à Justiça. "É preciso entrar
com liminar explicando a situação ou, se optar por pagar pelo
procedimento, pode pedir o reembolso na Justiça", explica a
diretora do órgão em Santo André, Ana Paula Satcheki.
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