Um dos
grandes vícios do modelo privado de planos de saúde já tinha sido
antecipado há décadas pelo grande Adib Jatene. Há muitos avanços
tecnológicos no setor de saúde. Desenvolvem-se máquinas
sofisticadas e o usuário tende a se tornar um consumidor ávido de
todas as geringonças, mesmo que não sejam essenciais para
diagnósticos.
Criou-se
uma dinâmica perversa. Os médicos são induzidos a exagerar nos
exames de diagnósticos. Se você vai a dois médicos, em curto espaço
de tempo, é possível que cada um peça exames similares aos que já
foram pedidos.
Esse
modelo consumista gerou dois vícios recorrentes.
Do lado
dos usuários de planos privados, o exagero nos exames de
diagnósticos, com encarecimento brutal dos planos de saúde. Do lado
dos usuários do SUS, a ideia de que são submetidos a um atendimento
de segunda linha.
Aliás, é
interessante ouvir a opinião dos grandes médicos do Sírio Libanês
sobre o tratamento prestado a Bolsonaro, pela Santa Casa de Juiz de
Fora, assim como o tratamento prestado décadas atrás a Osmar Santos
pela Santa Casa de Lins. Em ambos os casos, tratamento
irrepreensível. No caso de Osmar Santos, houve uma jogada
oportunista do neurocirurgião José Roberto Pagura, desqualificando
o atendimento em Lins, para poder se apresentar como o salvador
milagroso de Osmar.
Agora
– segundo
reportagem de O Valor – o plano de saúde Amil fechou com o
Hospital Sírio Libanês um contrato nos moldes do modelo inglês de
“capitação”. Em vez de pagar por cada paciente, a Amil e o Sirio
acertaram um valor fixo. Caberá ao Sírio administrar seus custos.
Para evitar sub-tratamentos, foram definidos 15 indicadores de
eficácia a serem respeitados.
Nos anos
90, com a ajuda de leitores, e explorando as facilidades dos
e-mails, propus um desafio sobre modelos de saúde, recebi várias
contribuições que se transformaram em uma série na Folha. Série,
aliás, que serviu para informar Serra do básico, quando se tornou
Ministro da Saúde.
Uma das
propostas mais inteligentes era o modelo inglês de saúde – que nem
Margareth Thatcher ousou mudar. Criou-se a figura do médico de
família, que administrava um fixo, de acordo com o número de
pessoas assistidas. Cabia a ele negociar com os planos de saúde e
laboratórios, operando como controlador de custos.
Por aqui,
consolidou-se a figura do médico de família para atendimento dos
pacientes pobres. Mas o universo atendido pelos planos de saúde
ficou ao relento. Com o acordo Amil-Sirio é possível que o setor
caminhe para uma racionalização maior.