O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse ontem que a
importação de médicos estrangeiros não pode ser um "tabu" e que a
prioridade do governo será atrair profissionais de Espanha e
Portugal para suprir a defasagem existente no interior do país e na
periferia de grandes cidades.
A declaração do ministro vem depois da polêmica com organizações
médicas que protestaram contra um possível acordo entre os governos
do Brasil e de Cuba, encabeçado pelo Ministério das Relações
Exteriores, para trazer 6.000 médicos ao país.
Durante evento em São Paulo, Padilha evitou falar diretamente
sobre a importação de médicos cubanos.
Afirmou que seu "grande foco" será fazer intercâmbios com os
dois países europeus, que possuem grande quantidade de
profissionais qualificados e desempregados em razão da crise
econômica.
O governo vai enviar hoje à Espanha um representante para
visitar universidades de medicina daquele país.
A AMB (Associação Médica Brasileira) pretende acionar a Justiça
e levar a classe para as ruas caso a gestão Dilma Rousseff (PT)
importe médicos de outros países sem que eles passem por "rígidos
testes de conhecimento, habilidade e atitude".
O presidente da associação, Floriano Cardoso, afirmou que o
governo será o "responsável direto por erros, complicações e mortes
que poderão ocorrer caso médicos incompetentes passem a atender a
população".
"A real intenção com essa história é trazer brasileiros que
fizeram cursos de medicina no exterior, em faculdades de baixíssima
qualidade, para atender a população mais pobre. As fronteiras estão
abertas, desde que esses profissionais provem que são competentes",
criticou.
O ministro disse que a política de atração de médicos
estrangeiros "não deve ser um tabu no Brasil porque em nenhum outro
pais é".
"Não dá para esperar oito anos pra ter esse profissional",
defendeu ele, em referência ao tempo para formar os profissionais e
à dificuldade de encontrar interessados para as áreas mais
distantes.
Segundo Padilha, a ideia é chamar médicos de fora, por meio de
intercâmbio, permitindo a atividade deles exclusivamente em áreas
carentes. Ele afirmou que 40% dos médicos na Inglaterra são
formados em outros países.
O ministro descartou a contratação de médicos de países com
menos de 1,8 médicos por mil habitantes --índice brasileiro--, como
Bolívia e Paraguai. Também desconsiderou a possibilidade de uma
validação automática de diplomas dos estrangeiros.
A exigência de passar por um teste nacional, porém, esbarraria
no rigor atual. Hoje em dia, médicos estrangeiros que queiram
trabalhar no Brasil precisam passar por um exame de revalidação de
diploma, do Inep, órgão do Ministério da Educação.
Em 2012, ele reprovou 91,6% dos 922 inscritos. Em 2011, a
reprovação foi de 90,4%. O percentual mínimo de acerto nas provas
objetiva e discursiva é perto de 60%.