Modelo de
Organizações Sociais de Saúde é visto por profissionais do setor
como um caminho para melhores resultados financeiros e
assistenciais
Diante de uma sala lotada de médicos e
administradores hospitalares, o diretor-presidente da Fehosp
(Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de
São Paulo), Edson Rogatti, clamou aos gritos por união entre os
hospitais filantrópicos. “Não sabemos a força que temos. Se
falarmos que não vamos mais atender o SUS, o que o governo vai
fazer”, provocou a plateia durante Congresso de Gestão Financeira e
Custos nesta terça-feira (20/05), na Hospitalar. “Não tem como
fazer saúde sem dinheiro”.
Assim
foi a tônica de sua palestra, recheada de pesadas e já conhecidas
críticas à tabela de remuneração do SUS. A insustentabilidade
financeira do sistema de saúde brasileiro afeta muitos prestadores
assistências, mas de maneira ainda mais grave às Santas Casas. “O
governo paga para as Organizações Sociais de Saúde, por exemplo, de
5 a 6 vezes mais”, ressalta Rogatti.
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da Planisa mostra abismo fiscal de Santas Casas de
SP
É
fácil de perceber que os gestores estão ávidos por discutir e
encontrar alternativas para o financiamento, já que os custos não
param de subir, acompanhado pela maior demanda. O diretor
técnico-executivo da Planisa, Sérgio Lopez Bento, ainda lembra que
a carga tributária não pode aumentar mais e ser uma via para
angariar recursos, afinal, já representa 36% do PIB.
“Dos
seis mil e poucos hospitais, quatro mil são privados. É impossível
atender 190 milhões de pessoas com dois mil e pouco hospitais
públicos. O governo sempre terá que recorrer aos privados”, diz o
médico e consultor em Saúde Wladimir Taborda.
Apesar de terem sido apresentadas possíveis
saídas para os problemas financeiros, como foi o caso dos fundos de
investimentos interessados no setor (verá reportagem em breve), é
unânime a importância de uma integração efetiva entre o público e o
privado.
Para
Taborda, que já foi Secretário de Estado de Saúde de São Paulo e
gestor hospitalar, inclusive do Hospital Albert Einstein, as
parcerias de contrato de gestão entre a esfera pública com
hospitais privados ou filantrópicos são a principal alternativa
para o setor.
“Todos os governos de Estado com algum recurso ou
que querem resultados têm adotado o modelo de Organizações Sociais
de Saúde (OSS)”. Dados do IBGE de 2013 mostram que 17 estados
brasileiros já contrataram serviços de gestão em parceria com
Organizações Sociais.
De
acordo com o executivo, há uma grande discrepância de qualidade
entre as instituições qualificadas como OS e as de administração
pública direta. “É raro um hospital com administração direta
conseguir manter um excelente padrão de qualidade”, afirma Taborda
lembrando que as ferramentas de gerência são completamente
diferentes em ambos os casos.
Apesar da maioria sofrer com superlotação, são
inúmeras as oportunidades de atuação como OS, dentre elas estão
benefícios fiscais (INSS, PIS, COFINS, CLLL, IR) e remuneração
livre para os profissionais.
“No
SUS, a rigor, tenho que aceitar o médico que passou no concurso
público, sem contar a não existência de mecanismos administrativos
eficientes para demitir um profissional inadequado”, disse Taborda,
que defende o modelo de OS como uma nova forma de remuneração e
cobrança de resultados.
Os
desafios dessas entidades no atendimento ao SUS também foram
elencados pelos participantes da mesa e o principal deles é
demostrar como os custos administrativos foram incorporados aos
órgãos de contrato. Para Benedito Jendiroba, da OSS Hospital e
Maternidade Therezinha de Jesus (RJ), essa transparência vem
evoluindo, mas não se pode dizer ainda que o setor de saúde conhece
seus custos.
O
caminho escolhido pela entidade para repassar os recursos aos SUS
de forma criteriosa foi a criação de um Centro de Custos
Compartilhado, em que áreas como RH, compras e finanças atendem
todas as unidades. Jendiroba descreve economia de escala,
alavancagem das compras com a consolidação de fornecedores e
redução de custos trabalhistas como vantagens de custos, já as de
serviços foram: otimização de processos, transparência e maior
controle.
Mesmo
com tantos demonstrativos de que o sistema de saúde brasileiro
enfrenta problemas que ameaça sua sustentabilidade, a paixão e
vontade de muitos profissionais e gestores em encontrar saídas para
reduzir custos sem perder a qualidade nutre um futuro esperançoso –
sentimento este evidente nas palavras de Jendiroba durante o
congresso: “difícil é aquilo que não queremos fazer e longe é onde
não queremos chegar”.
*Congresso de Gestão Financeira e Custos está
dentro da grade de congressos organizados pela Federação Brasileira
de Administradores Hospitalares – FBAH