Operadoras de
planos de saúde já fazem as contas de quanto a gripe A, transmitida
pelo vírus H1N1 e conhecida como " gripe suína", vai pesar no
orçamento. Com o avanço da epidemia no país, hospitais do Rio e de
São Paulo estão registrando alta de até 50% na demanda por
atendimento emergencial. No Copa D'Or do Rio, o maior da rede
privada carioca, o número de atendimentos a crianças este mês
aumentou 68% em relação a julho do ano passado. Do público total
atendido pela instituição, 95% são clientes de planos de saúde. Nos
consultórios médicos, segundo a Unimed-Rio, o crescimento é de
20%.
O grupo Amil
está preocupado com o possível aumento de internações graves. Hoje,
há 15 clientes da empresa internados no país, dos quais 8 em
Unidades de Terapia Intensiva (UTI). "Cada internação com
assistência respiratória integral 24 horas custa entre R$ 10 mil e
R$ 12 mil por dia. E a expectativa epidemiológica é que o volume de
internação cresça até setembro", afirma Antonio Jorge Kropf,
diretor-técnico do grupo Amil. O grupo tem mais de 2,5 milhões
associados em planos médicos e uma rede credenciada de 2,9 mil
hospitais, incluindo unidades próprias. "Teremos custos financeiros
maiores, mas a empresa é forte e pode absorver o
impacto."
Na Intermédica,
um dos maiores planos de saúde de São Paulo com 1,7 milhão de
usuários, há cerca de 20 pessoas internadas, inclusive na UTI, com
suspeita da doença. Neste inverno, o atendimento nos
prontos-socorros da empresa, que utiliza rede própria, aumentou
entre 10% e 15% sobre 2008. "Estamos criando 10 novos leitos
específicos para a gripe. É um aumento de cerca de 20% no número de
leitos", diz Paulo Barbanti, presidente da Intermédica.
A SulAmérica
Seguros, com 1,7 milhão de segurados no país, apoia a prevenção.
Resolveu, por exemplo, assumir os custos do exame que detecta o
vírus H1N1, a ser feito no Hospital Albert Einstein , em São Paulo.
Segundo Roberto Galfi, diretor de saúde da empresa, sairá mais
barato bancar o custo de R$ 400 do exame do que assumir o gasto de
uma internação na UTI. "O hospital nos chamou e disse que iria
fazer o exame, compraria o kit e nós vamos bancar", diz
Galfi.
Eduardo Assis,
superintendente médico da Unimed-Rio diz que também há um aumento
significativo de pedidos de exames, principalmente hemogramas,
raios-X da face e do tórax. "Como a gripe está muito forte, os
médicos estão se certificando da gravidade da doença. Com isso, o
crescimento dos exames também é de 20%".
Em 2008, o
impacto da dengue - entre os meses de janeiro e abril de 2008 - nos
custos da Unimed-Rio foi de R$ 4,9 milhões. Isso representou cerca
de 2% dos custos médicos daquele ano. Segundo Assis, o setor
trabalha com margens apertadas e 2% representa um impacto
importante para a empresa.
Na Amil, também
houve aumento de custos em R$ 4 milhões por causa da dengue. A
sinistralidade fechou o primeiro trimestre do ano passado - período
mais crítico da epidemia - com 65,7%. A previsão da Fator Corretora
para o segundo trimestre deste ano é que a sinistralidade seja de
72,3%, em parte por conta da gripe e também como reflexo da crise
econômica, já que muitos trabalhadores que temiam perder o emprego
anteciparam tratamentos.
Os planos já
preveem repassar esses custos ao consumidor. "No ano que vem, ao
negociar com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) o
reajuste, vamos mostrar as planilhas e pediremos um repasse maior.
Já ocorreu com a dengue e deve ocorrer com a gripe suína", diz
Eduardo Assis da Unimed-Rio. "Isto é uma consequência natural do
processo", completa Jorge Antônio Kropf, da Amil. Porém, a
negociação não deve ser fácil. "Acho difícil conseguir repassar
esse aumento nos planos individuais, que são controlados pela ANS",
diz Arlindo Almeida, presidente da Abramge, entidade que reúne as
empresas de medicina de grupo. Nos planos coletivos, o reajuste é
negociado livremente entre as partes, mas os repasses encontram
resistência no atual cenário econômico, que colocou o corte de
custos no foco das empresas.
A Rede D'Or já
teve que investir R$ 100 mil devido à contratação de profissionais
para os hospitais Copa D'or, na zona sul da cidade, e também no
Quinta D'Or, na zona norte, onde a demanda cresceu 50%. No Hospital
Samaritano, em Botafogo, na zona sul do Rio, que atende executivos
de multinacionais e população de classe alta, a demanda aumentou
40% em relação a junho, logo após o feriado de Corpus Christi.
"Recebemos muitas pessoas que vieram de Nova York com sintomas de
gripe", explica o chefe da emergência do hospital, Luis Fernando
Correia.
Nos hospitais
paulistas Sabará, Sírio Libanês, Oswaldo Cruz e Santa Catarina, a
demanda nos prontos socorros aumentou de 18% a 30% no inverno deste
ano, sobre 2008 . "Está havendo uma pressão enorme sobre a saúde
pública e privada. Antes as pessoas curavam uma gripe em casa, com
repouso e 'vicky'. Agora, todos vão para o hospital", disse Wagner
Cordeiro Marujo, diretor-técnico do hospital infantil Sabará, em
São Paulo.